Agente Secreto é mais um filme brasileiro candidato a ter condições para juntar uma pilha de prêmios de cinema no Brasil e no mundo.
Lula defende igualdade do Brasil no mundo durante encontro com equipe do filme 'O Agente Secreto'
informações sobre ações culturais de base comunitária, cultura periférica, contracultura, educação pública, educação popular, comunicação alternativa, teologia da libertação, memória histórica e economia solidária, assim como noticias e estudos referentes a análise de politica e gestão cultural, conjuntura, indústria cultural, direitos humanos, ecologia integral e etc., visando ao aumento de atividades que produzam geração de riqueza simbólica, afetiva e material = felicidade"
Agente Secreto é mais um filme brasileiro candidato a ter condições para juntar uma pilha de prêmios de cinema no Brasil e no mundo.
Lula defende igualdade do Brasil no mundo durante encontro com equipe do filme 'O Agente Secreto'
Por Mariana Toledo -7 de agosto de 2025 Atualizado em 7 de agosto de 2025
Foto ReproduçãoNesta quinta-feira, 7 de agosto, foi realizado no Rio de Janeiro o painel "Audiovisual na Educação: Políticas Públicas e Estratégias de Difusão nas Escolas", como parte da programação do 3º Festival Curta! Documentários. Na mesa, agentes culturais, produtores e pedagógicos analisaram de que maneira o uso de filmes e séries pode ser incorporado ao cotidiano escolar. Vanessa Souza, coordenadora do CurtaEducação, plataforma de streaming que une educação e entretenimento (edutainment), promovendo engajamento e transdisciplinaridade através de conteúdos audiovisuais relevantes, moderou o debate e pontuou que a grande missão do projeto é fazer com que o audiovisual, principalmente o brasileiro, encontre a plateia que, na sua visão, é a mais importante, que são os cidadãos em formação. "Levar nosso cinema para dentro das escolas é uma oportunidade não somente de formar plateias, mas também de enriquecer e tornar mais prazeroso o aprendizado, levando para a sala de aula personalidades, lugares e histórias que não chegariam ali naturalmente", disse.
O CurtaEducação firmou recentemente uma parceria com a SEEDUC – RJ, a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Roseday Nascimento, coordenadora de articulação no órgão, também destacou a importância do audiovisual nas escolas e ressaltou que, como qualquer projeto, isso demanda planejamento. "O audiovisual já começa com uma vantagem, porque 50% da aprendizagem acontece quando a gente consegue ouvir, ler e ver alguma coisa. E esse trabalho do Curta facilita muito porque sabemos que, por trás, há uma curadoria responsável, o que ajuda os professores a desempenharem esse trabalho nas salas de aula. O resultado é muito produtivo. Os alunos entendem a mensagem que você quer passar de forma mais agradável e lúdica. Acredito que esse projeto terá muito sucesso".
Do ponto de vista de alguém cuja trajetória já incluiu anos de trabalho em sala de aula, Nascimento pontuou que não dá para pensar em ensinar as crianças e os adolescentes de uma única maneira. "Temos que diversificar, e essa diversidade ocorre também através dessas possibilidades do cinema. Com ele, conseguimos trabalhar diversos conteúdos, inclusive promovendo uma integração transdisciplinar e alinhando diversos componentes, oferecendo assim uma formação integral. Cada aluno aprende de uma maneira, por isso precisamos de estilos de aprendizagem diferentes – e o audiovisual complementa e facilita esse processo", avaliou.
A coordenadora enfatizou que, antes de escolher um filme ou uma série para utilizar com os alunos, os professores devem planejar, isto é, entender onde querem chegar com aquilo. Qual é o objetivo de apresentar aquele conteúdo. "O professor tem que ter um feeling, um termômetro. Às vezes, ele acha que aquela aula que ele montou é maravilhosa – mas pode ser só para ele. Para os alunos, não. Temos que entender como eles aprendem. Professor é um eterno estudioso. Mas o planejamento é fundamental – além do trabalho integrado, até para otimizar, isto é, utilizar um único curta e atender a diversos componentes curriculares", concluiu.
Incitar o debate
Fernando Sousa e Gabriel Barbosa são diretores e produtores do curta "Rio, Negro" (2023), da Quiprocó Filmes, um documentário que apresenta um olhar possível para a história do Rio de Janeiro. A partir de entrevistas e amplo material de arquivo, a narrativa busca desvelar como a população negra forjou trajetórias individuais e laços comunitários em uma cidade-diáspora marcada pelas disputas em torno do projeto "civilizatório" das elites brancas. O filme é um dos mais utilizados nas escolas a partir do CurtaEducação.
Sousa contou que, durante o processo de produção dos filmes, a dupla nem sempre concorda, mas o ponto é justamente esse: a importância do debate. "Principalmente com os documentários, pensamos em como esses filmes podem favorecer ou facilitar debates – não só na escola, mas em qualquer outro lugar. Quando criamos nossos documentários, pensamos em qual é o público-alvo, claro, mas ao pensar nisso não trazemos essa perspectiva de ser um filme pedagógico, e sim um filme que proporcione debate", explicou. "Nossos filmes trazem perspectivas contemporâneas sobre determinados temas. E um ponto fundamental é não menosprezar o público. Os filmes podem circular no ensino básico, médio, graduação, pós-graduação… Pensamos que eles podem passar por diferentes espaços de ensino, contribuindo para o debate e sendo usados como material de apoio. Eles contribuem com a formação dos professores também, e não só dos estudantes. É uma via de mão dupla", acrescentou.
Barbosa concorda que parte do processo de se pensar e conceber um filme passa justamente por não subestimar o público, não optando por um caminho que circunscreva a audiência e limite aquilo que a obra pode alcançar: "A gente não controla por onde o filme vai circular, nem aquilo que vai ser debatido depois. Com esses debates, nós realizadores também aprendemos ainda mais sobre o filme e a temática que ele aborda. Começamos a pensar nossos filmes de maneiras diferentes a partir dos debates que participamos. Temos a convicção de como o filme segue mudando aqueles que o realizaram também. Um filme pode construir novas possibilidades de abordagem e perspectiva dentro de um mesmo assunto, apresentando co nevões que não eram dadas para nós antes". Para o realizador, produzir um filme é buscar ao máximo a ousadia de reinterpretar coisas, olhando de outra maneira para o assunto em questão, pisando no presente e também mirando o futuro.
Carlos Seabra, sócio-diretor da Oficina Digital, empresa de assessoria e desenvolvimento de projetos lúdicos, educacionais e de comunicação, salientou que, com a Internet e o ambiente digital, esse processo de distribuição audiovisual, inclusive nas escolas, ficou ainda mais fácil – mas há o problema dos algoritmos, uma vez que quem comanda o digital hoje são as big techs. "Existe um projeto de poder, com algoritmos que determinam o que as pessoas assistem ou deixam de assistir", destacou.
É justamente nesse contexto que o uso dos conteúdos audiovisuais nas escolas é ainda mais relevante. "E não é só ver o filme – precisa do debate. Quando você discute o filme, bate um papo a respeito, aí sim você está construindo sinapses. Isso é apropriação do conteúdo. Caso contrário, entra por um ouvido e sai pelo outro. Não é fácil fazer debates com mais significado – principalmente na escola. Por isso precisamos simplificar. A escola não está habituada a debater. Por mais que a educação tenha se democratizado, ainda segue-se muito aquele modelo do professor como emissor do saber. Ele fala e os alunos ouvem. Precisamos reinventar o debate, especialmente nas escolas. Isso é fundamental. Ver um filme em sua plenitude é trocar opiniões a respeito", afirmou. Nesse sentido, Seabra defendeu que os professores devem ser propositivos, fazendo do debate uma coisa viva. "Paulo Freire já era contra essa educação baseada na mera transmissão de informações. O conhecimento é construído pelos indivíduos, e não comunicado", observou.
Ele concorda com Nascimento no sentido de que utilizar audiovisual em sala de aula demanda planejamento. "Você exibe o filme, propõe uma discussão, relaciona com um fato recente. Principalmente com os curtas, os alunos podem assistir tudo de uma vez e depois reassistirem com o professor fazendo pausas, com mini-debates durante o filme. O curta permite isso, ou seja, trabalhar com pequenos segmentos", sugere.
Adaptação ao público
É claro que, em tempos de redes sociais e um verdadeiro bombardeio de conteúdos audiovisuais, especialmente aqueles mais curtos e rápidos, despertar a atenção do aluno para um conteúdo mais longo ou profundo é desafiador. Para Seabra, a estratégia é basicamente "falar na língua deles", colocando conteúdos relevantes nessas plataformas. "Único jeito de contrariamos isso é tendo um projeto próprio de uso dessas redes. Que passa por uma regulamentação, claro, mas trabalhando essa dopamina que elas geram a nosso favor".
Letícia Couto, coordenadora de comunicação do Instituto Claro, que é responsável pela área social da empresa, contou que o Instituto possui um canal no Tiktok feito por e para professores. "No segundo semestre, vamos lançar uma série de planos de aula de livros da Fuvest. Até pensamos em fazer um vídeo do TikTok por obra, mas não dá. Não tem como resumir tanto. Por isso optamos por um formato mais longo. Mas tem muita coisa que dá pra fazer no TikTok, no Instagram. Acredito nisso: em fazermos produção de qualidade em todos os formatos. Se é esse formato que está sendo consumido pelos jovens, que eles tenham acesso a conteúdos de qualidade nesse formato", defendeu.
O Instituto Claro tem um grande volume de produção de conteúdo em educação e cidadania. "Mais do que investir e produzir esse material, temos muita responsabilidade com ele, pensando especialmente nessa quantidade de conteúdo que chega para as pessoas, nessa produção descontrolada. Queremos garantir, ali no detalhe, a qualidade. Temos uma equipe que envolve coordenador pedagógico, jornalista, enfim, pessoas que foram cuidadosamente escolhidas. E ouvimos muito os professores também. Temos esse cuidado de não achar que sabemos o que o professor quer. A gente não sabe, temos que ouvir deles – como a gente pode contribuir, que materiais podemos fornecer. Buscamos também sempre levar temas atuais para a sala de aula, pensando no que está sendo falado agora e no que ainda tem pouco material disponível. O desafio é fazer com que esse conteúdo chegue, por isso trabalhamos muito nas nossas redes sociais e na comunicação. Também damos muito espaço a outros formatos de produção de materiais, como vídeo, podcast e reportagem, trabalhando diferentes formatos para, de fato, chegarmos a públicos diferentes, alunos e professores diferentes, com demandas diferentes", detalhou Couto.
Distorção de políticas públicas
Por fim, Sousa aproveitou a oportunidade para refletir sobre a produção e o atual espaço dos curtas-metragens no Brasil. Sua produtora, a Quiprocó Filmes, já produziu cerca de 15 curtas e dois longas. Na classificação da Ancine, eles são uma produtora de "Nível 2". Para subir de nível, eles precisam produzir novos longas. "A questão é que a produção de curtas não conta nada. Podemos produzir 200 curtas que continuaremos no mesmo nível. Há aí uma distorção – e estamos num momento de muitas distorções nas políticas públicas para o audiovisual brasileiro. Já temos três anos nesse governo e pouco se avançou – na regulação do streaming, na regulação das telas como deveria, na lei do curta… Quando a gente não avança na regulação do streaming, deixamos de arrecadar um monte de recursos que poderiam estar sendo investidos no audiovisual. É uma distorção geral do ponto de vista de políticas públicas. Para quem está do lado da produção, sobretudo as pequenas produtoras – que produzem muitas vezes esses curtas-metragens, nem se fala. Esse Ministério está fraco e precisa operar", concluiu o diretor.
Resultado:
Quitanda Soluções Criativas: 18 anos de ações de impacto social
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Em 2025, a Quitanda Soluções Criativas chega à maioridade, com a consolidação de 18 anos de atividades de alcance nacional e global. A agência de impacto social criada no Ceará em 2007 desenvolve tecnologias sociais nas áreas de cultura, arte e educação por meio de ações inovadoras e sustentáveis.
Promovendo elos entre os mais variados perfis de público e conectando gestores, produtores, artistas, empresários, profissionais da educação e de outros tantos segmentos, a agência é marcada pelo pioneirismo ao criar métodos e fluxos que vêm inspirando outras instituições e até se consolidando como políticas públicas junto a parcerias com diferentes instâncias de gestão municipal, estadual, federal e internacional.
Com expertise em projetos do setor de Negócios Sociais e Economia Criativa, a Quitanda guia suas ações por meio de pilares como a transformação social e a democratização do acesso à cultura e às artes a partir de uma ressignificação da cultura como agente de desenvolvimento social.
A agência estrutura suas atividades a partir de serviços de consultoria, concepção de projetos, produção, captação e mobilização de recursos, pesquisas e estudos no campo cultural, monitoramento e avaliação de projetos, assessoria em comunicação e marketing cultural.
Ao longo de 18 anos, a empresa vem trabalhando em diversos projetos nas áreas de cultura, educação, meio ambiente, sustentabilidade, além de outros negócios sociais. Com seus projetos, a Quitanda Soluções Criativas quer contribuir e perpetuar os empreendimentos culturais e sociais, fazendo com que eles tenham impactos positivos na vida das pessoas. Portanto, os programas que já passaram e estão em desenvolvimento atualmente têm em seu cerne os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da UNESCO, que visam a diminuição da desigualdade de oportunidades.
A Quitanda Soluções Criativas tem como marca o ineditismo ao oferecer formação aos trabalhadores da cultura, com oferta de cursos técnicos e de pós-graduação com os Laboratórios Culturais. Ainda em seu rol de projetos transformadores, vem impactando a vida de milhares de artistas e plateia com os festivais ELOS, Giro das Artes e Acordes do Amanhã. E com programas como Rede de Dança, Plataforma Sinfonia do Amanhã, Escolas Criativas, CINE+, Ceará Criativa e LAB Cidades Criativas, a instituição deixa um legado de arte e cultura por diversas cidades do Brasil.
Nos últimos anos, a agência conquistou ainda mais alcance global por meio de eventos de impacto a exemplo da realização do Festival Hola Rio, na Espanha, e da direção da Casa G20/Embaixada Cultural, no Rio de Janeiro, com ações de diplomacia cultural que agruparam as maiores e mais importantes potências econômicas do mundo.
O Programa Vai em São Paulo tem esse escopo , ou seja, os seus objetivos tem esse alcance ou extensão. Assim como tem a PNAB e a Lei Rouanet.
No caso do VAI, fomos o responsável pela apresentação da proposta ao então vereador Magal da Pastoral de Aracaju no ano de 2004, sendo aprovado na câmara de vereadores o VAI Aracaju.
Infelizmente, o então prefeito Marcelo Deda e o que lhe sucedeu, Edvaldo Nogueira, não conseguiram ter visão de longo prazo para perceber o alcance ou a extensão do VAI. Não fosse assim, a produção artistico-cultural em Aracaju estaria em outro patamar.
Mas a PNAB atende e amplia o que é proposto no VAI, inclusive por causa do tamanho do orçamento. E por isso esperamos de quem ocupa o lugar que outrora foi de Deda e Edvaldo uma outra compreensão. O atual secretário de cultura municipal, Paulo Correa, que trabalhou nas duas gestões , tanto de Déda, como de Edvaldo, pode ajudar a atual prefeita Emilia Correa não perder mais uma janela de oportunidades para o nosso desenvolvimento cultural, que é também econômico e cidadão...
Para saber mais sobre o VAI SP e o VAI ARACAJU, clique AQUI
No dia de ontem, 07 de agosto de 2025, realizamos de forma online, das 15 ás 16 horas, a primeira reunião de retomada da Rede Sergipe de Pontos de Cultura.
A razão principal da reunião é começar a organização da rede local a fim de participar da preparação da Teia Nacional, a qual deve ser precedida da realização das Teias Estaduais e das Teias municipais onde for possível.
A TEIA é um encontro nacional e regional dos Pontos de Cultura, criado para fortalecer a rede de iniciativas culturais comunitárias no Brasil. Ela funciona como um espaço de articulação, troca de experiências, formação e visibilidade para os projetos culturais vinculados ao programa Cultura Viva, promovendo a gestão compartilhada e a democratização da cultura.
Participaram da reunião seis representantes de pontos de cultura , de um total de nove que fazem parte do grupo whatsapp “Teia 2026 SE” até o presente momento, os quais foram convidados de forma direta pelos integrantes do grupo ou indireta, em comunicado/convite, através dos grupos zap “Comité Paulo Gustavo” e “Fórum do Audiovisual”
Para melhor otimizar o uso do tempo, foi reunido um conjunto de dezesseis tópicos resumindo temas/assuntos registrados em conversas no grupo “Teia 2026 SE” .
Os temas/assuntos de curto prazo foram propostas ações da seguinte maneira:
1- Convidar outros representantes de Ponto de Cultura para participar do grupo. Pode ser direta ou indiretamente. Para isso se faz necessário levantar os nomes que constam dos Pontos sergipanos na Plataforma Cultura Viva. Ação: Cada membro do grupo encaminhar convite diretamente a Pontos de Cultura certificados diretamente e indiretamente por meio de grupos de whatsapp.
2- Escolher um representante titular e suplente da Rede Sergipe de Pontos de Cultura, que pode ser provisório, a ser referendado em reunião ampliada. Ação: Aguardando adesão maior de mais representantes de Pontos de Cultura, com perspectiva de ser decidido em duas ou três semanas.
3- Elaborar ata da reunião de hoje, fotografar a reunião e publicar no blog da cultura. Ação: Como está sendo feito
4- Marcar dia e horário da próxima reunião. O ideal é que seja semanal. Ação: Indicativo de ser na próxima terça-feira (12/08), às 18h30.
5- A próxima reunião pode incluir a participação de um integrante da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura para nos passar algumas orientações. Ação: Entrar em contato para obter confirmação. Contato prévio já foi realizado.
6- Programação da Teia Estadual. Ação: Marcar um turno para reunir representantes de Pontos de Cultura a fim de discutir proposta com base no roteiro abaixo.
Uma programação de Teia Estadual de Pontos de Cultura pode incluir atividades como oficinas, fóruns, seminários, apresentações culturais, feiras e outras ações que promovam o diálogo, a troca de experiências e o fortalecimento da atuação em rede entre os Pontos de Cultura. O objetivo principal é fortalecer o exercício dos direitos culturais e a atuação em rede entre os Pontos de Cultura.
Exemplo de programação:
Dia 1:
Manhã:
Abertura oficial da Teia, com a presença de autoridades e representantes dos Pontos de Cultura. Apresentação do contexto da rede e dos objetivos da Teia.
Tarde:
Fórum Temático sobre "O Papel dos Pontos de Cultura na Promoção da Diversidade Cultural", com palestras e debates.
Noite:
Apresentação cultural com grupos locais, valorizando a diversidade cultural da região.
Dia 2:
Manhã:
Oficinas práticas sobre temas como gestão cultural, produção cultural, comunicação e novas tecnologias, com foco nas necessidades dos Pontos de Cultura.
Tarde:
Seminários temáticos sobre temas como cultura popular, cultura periférica cultura digital, patrimônio cultural, entre outros, com a participação de especialistas e representantes dos Pontos de Cultura.
Noite:
Feira de produtos culturais, com a comercialização de artesanato, livros, discos, comidas típicas e outros produtos produzidos pelos Pontos de Cultura.
Dia 3:
Manhã:
Visitas técnicas a Pontos de Cultura locais, para conhecer suas experiências e práticas.
Tarde:
Elaboração de um plano de ação para a rede de Pontos de Cultura, com metas e estratégias para os próximos meses.
Noite:
Encerramento da Teia, com a apresentação dos resultados e perspectivas para o futuro da rede de Pontos de Cultura.
Outras atividades:
Rodas de conversa sobre temas relevantes para a atuação dos Pontos de Cultura, como sugestão em razão do atual contexto nacional e internacional "Soberania Digital e Cultural "
Apresentações artísticas diversas, como dança, música, teatro e outras expressões culturais.
Exposição de fotos, vídeos e outros materiais produzidos pelos Pontos de Cultura.
Recursos:
A programação pode ser realizada em um local central da região, como um centro cultural, um teatro ou um espaço público.
É importante contar com o apoio financeiro e institucional do Ministério da Cultura e orgãos de gestão e de outras instituições parceiras.
A participação dos Pontos de Cultura é fundamental para o sucesso da Teia.
Observações:
Este é apenas um exemplo de programação, e a Teia pode ser adaptada de acordo com as necessidades e características de cada região.
É importante que a programação seja elaborada de forma participativa, envolvendo os Pontos de Cultura e outros atores locais.
A Teia deve ser um espaço de diálogo, troca de experiências e fortalecimento da atuação em rede entre os Pontos de Cultura.
7- Sugestão de inclusão de editais exclusivos com bolsas Agentes Jovens Cultura Viva para Pontos de Cultura certificados. Ação: A discutir em próximos encontros.
8- Levantamento dos municípios sergipanos que receberam recursos acima de R$360.000,00 – Ação: Foi informado ser no total de cinco. Há uma lista com cidades de todo o Brasil. Um dos participantes da reunião ficou de destacar as cidades sergipanas
9- Reforçar o pleito do Ponto de Cultura Pescando Memórias a fim de que a Prefeitura de Socorro cumpra a lei que obriga o lançamento de edital para Pontos de Cultura. Ação: A representante do referido Ponto informou que está aguardando resposta depois de uma série de conversas com a Secretaria de Cultura do referido município. A sugestão é que a situação seja protocolada em forma de reclamação na CGU por meio da plataforma FALA BR
10- Apresentação resumida de uma minibio e redes virtuais de todos os Pontos de Cultura que estão no grupo e dos que vierem a fazer parte. Ação: Aguarda que isso seja feito por quem está no grupo e ainda não fez e por novos Pontos de Cultura convidados.
11- Marcar reunião com diretores e técnicos da Funcap, Funcaju e Prefeituras que tem direito a receber de R$360.000,00 para cima. Ação: A pretensão é fazer isso após a segunda reunião, cuja precisão é acontecer na próxima semana. Foi sugerido também contato com cidades que recebem menos de R$360.000,00, mas que possuem Pontos de Cultura certificados a fim de que conste bonificação como parte dos critérios de seleção dos projetos inscritos na seleção pública da PNAB local.
12- Participação unificada nas consultas públicas do 2º ciclo da PNAB (on-line e presenclal) . Ação: Apresentar no grupo e obter o referendo interno, ficando livre para ser apresentada por cada representante de Pontos de Cultura como indicativo, independente do referendo...
13- Escolha de um segundo nome de cada Ponto de Cultura para compor/completar o grupo do ZAP. Ação: A ser encaminhado pelos representantes dos Pontos de Cultura.
14- Marcar momento de formação interna para ler e discutir a LEI CULTURA VIVA, PNAB, portarias, decretos e etc...Ação: Inicialmente deve ser realizado de forma individual por cada integrante do grupo e de forma urgente. Incluir na programação da Teia Estadual e Nacional
15- Sugerir a CGU fazer uma auditoria nacional da PNAB, avaliando também a participação e o controle social, tanto no plano federal, como estadual e municipal. Nesse último caso pode ser por amostragem. Como o viés ou critério de análise do TCU e TCEs é mais centrado nos aspectos financeiro- contábil, a CGU pode pegar a direção da auditoria cidadã pela via da participação e do controle social. Ação: Para discussão nas próximas reuniões.
16- Sendo um grupo pequeno podemos formar duplas de trabalho. Se der, um GT, ou mais de um, com o mínimo de três pessoas..
Leia também:
Relatoria - Zezito de Oliveira -Assessor de Projetos da Ação Cultural e integrante do Conselho Gestor do Pontão de Cultura Digital e Midias Livres
P.S.:
📢 CONVITE ESPECIAL: LIVE NACIONAL de Lançamento - materiais de orientação sobre Participação Social na Aldir Blanc
A Live apresentará dois novos materiais elaborados pelo Conselho Nacional de Política Cultural e pelo Ministério da Cultura: a Cartilha e o Guia de Participação Social na Política Nacional Aldir Blanc.
✅ Serviço LIVE de Lançamento - Participação Social na Aldir Blanc
🗓 Quando? Segunda-feira, 1️⃣1️⃣ de agosto de 2025
⏰ Horário: 19h00 (horário de Brasília)
📍 Onde? Canal do MinC no YouTube
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Vamos juntos fortalecer a gestão participativa e a participação social na cultura em todo o Brasil!
Padre Hipólito e Padre Albano: dois jeitos de ser igreja na telenovela Roque Santeiro (1985)
https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/28545/22460
Vandemberg Simão Saraiva
Resumo: Este artigo intenta analisar, por meio de contrapontos, os sacerdotes católicos da novela Roque Santeiro, adaptação televisiva da peça O berço do herói, de Dias Gomes (1922-1999). A fim de subtrair-se à censura reinante no regime militar, o texto mencionado passou por modificações e situações outras que provocaram o surgimento de uma obra de autoria coletiva. Os presbíteros passaram a integrar uma nova trama, em que duas maneiras de ser Igreja se contrapõem: o viés tradicionalista e a visão baseada nos pressupostos da Teologia da Libertação. Padre Hipólito representa o catolicismo tradicionalista, já Padre Albano é partidário de uma Igreja mais engajada socialmente, por isso é chamado de “padre vermelho”. Por meio dessas personagens, a novela abordou, de forma geral, essas duas maneiras de vivenciar a fé católica.
Palavras-chave: O berço do herói; telenovela Roque Santeiro; adaptação televisiva; Igreja Católica;
Teologia da Libertação.
1 Do palco para a televisão: censura e transformações do texto
O
berço do herói, escrito em 1963, é um texto teatral
cuja trama se desenvolve em uma
cidade interiorana que vive à custa do mítico
Cabo Jorge, pracinha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que foi considerado morto durante um conflito na Itália. “Encorajados pelo heroísmo
de Roque, os soldados brasileiros abandona[ra]m a trincheira e avança[ra] m em massa. [...] Graças a ele, as tropas brasileiras na Itália conquistaram seu primeiro triunfo” (GOMES,
2001, p. 16). Sua pequena
e remota cidade natal adotou, então, o nome de Cabo Jorge e passou a ser um centro turístico,
desenvolvendo o comércio
em torno do mito do suposto herói.
As datas de seu nascimento e de sua morte passaram
a compor o calendário cívico de todas as escolas brasileiras. Jorge tornou-se
um vulto militar.
Anos depois, o pracinha
surge na cidade. Em vez de um autêntico herói de guerra, ele revelou-se um desertor, pois fugira da luta após ser ferido
em combate. Assim,
a estrutura social,
política, religiosa e econômica com que
se estabelece e se movimenta a pequena cidade
torna-se ameaçada. O berço do herói é um texto político
com que se questiona o mito do heroísmo.
Até ser adaptado para a novela da Rede Globo, exibida na década de
1980, o texto
da peça O berço
do herói passou por transformação, exigidas não somente pelo processo
tradutório de texto teatral para fílmico, mas também por questões políticas
impostas pelo regime militar brasileiro. O próprio Dias Gomes (2001,
p. 5-7) expõe
esse histórico na introdução que faz a uma edição posterior à novela
global.
O berço do herói precisou esperar, por causa do golpe
militar de 1964, quase
dois anos até que “um produtor suficientemente corajoso” (GOMES,
2001, p. 5) se interessasse por montá-lo. O texto foi publicado em 1965, com um prefácio incisivo
de Paulo Francis
e uma orelha de Ênio Silveira.1
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1 Reimão (2014, p. 80) informa que,
apesar da encenação de O berço do herói ter
sido proibida pela censura federal em
1965, a publicação em livro alcançou sucesso de vendas. A pesquisadora observa que, nos casos em que existe uma interdição para exibições públicas,
mas o livro está publicado, ocorre algo curioso:
a obra que não pode ser vista por plateias adultas que pagam ingressos está
ao alcance de qualquer pessoa, desde que alfabetizada. No que se refere a
restrições dos órgãos governamentais, Reimão (2014, p. 81) salienta que casos similares ocorreram
com os filmes Macunaíma
(1969), de Joaquim
Pedro, São Bernardo (1972), de Leon Hirszman, e Toda nudez será castigada (1972), de Arnaldo Jabor, que também
receberam cortes ou ficaram retidos pela censura.
Essa publicação fez com que um general exigisse do Conselho de Segurança Nacional a prisão de Francis, Silveira e Gomes. O motivo, segundo Dias Gomes (2001, p. 5), foi o modo com que se fez a abordagem da figura do herói – e herói militar –, tema mais que polêmico para aquele momento histórico brasileiro. Em função desse conteúdo, proibiu-se o espetáculo, dirigido por Antonio Abujamra, na noite de estreia: 22 de julho de 1965. Carlos Lacerda, escreve Gomes (2001, p. 5), então governador do antigo estado da Guanabara, assumiu, por pressão militar, a autoria da interdição. Somente em 1976 a peça estreou, não em chão brasileiro, mas em terras estadunidenses.
No ano seguinte, 1966, tentou-se uma
adaptação para o cinema, cujo roteiro foi escrito pelo próprio Dias Gomes. Ocorreu
nova interdição. Dez anos
depois, ainda sob o regime militar, houve outra tentativa de adaptação da peça,
agora para a televisão. Para burlar a censura, Dias Gomes trocou-lhe o título para Roque Santeiro e alterou o nome de quase a totalidade
das personagens. Além disso, o protagonista, um cabo da Força
Expedicionária Brasileira
(FEB), passou a ser um artesão de santos de barro,
um santeiro. Conforme
Gomes (2001, p. 6), a novela também
foi proibida, depois que um
grampo interceptou uma conversa do dramaturgo com o historiador Nelson Werneck
Sodré, confidenciando que a novela Roque
Santeiro seria uma adaptação de O
berço do herói.
Em 1985, agora com o processo de redemocratização, a novela foi, enfim, liberada. Por causa
do sucesso estrondoso da versão televisiva, Dias Gomes manteve os novos nomes das personagens e retrabalhou o texto da peça, enriquecendo-a com algumas cenas
sugeridas e, talvez, necessárias, em se tratando
do gênero telenovela. Esta última versão
se destinava a uma
montagem com músicas de Caetano
Veloso. Em 27 de janeiro
de 2017, no Teatro
FAAP, em São Paulo, o texto original
de O berço do herói estreou pela primeira
vez no formato de musical, trazendo o famoso título da novela para
nomeá-lo: Roque Santeiro, o Musical.
O espetáculo foi dirigido por Débora Dubois e a trilha sonora ficou a cargo de
Zeca Baleiro.
Dias Gomes estabeleceu certa coerência entre sua obra e ideias e eventos contemporâneos a ele. Um exemplo disso foi o aproveitamento realizado por Gomes, ativista político de esquerda, para fazer troça do escândalo estadunidense de Watergate, que acabou por derrocar o presidente Richard Nixon no mesmo ano em que a novela O bem-amado (1973) era exibida. Em Sucupira, Odorico manda grampear o confessionário do vigário, seu oposicionista, a fim de gravar os pecados e os segredos dos habitantes da localidade. Não é de surpreender, portanto, que as adaptações das obras de Gomes tragam marcas sensíveis de atualizações.
Um dos temas caros a Dias Gomes é a
religião e sua relação com aspectos morais e políticos. Diversas obras
confirmam essa articulação, destacadamente O pagador de Promessas (1959), A revolução dos beatos (1961), Roque Santeiro
(1963) e O santo inquérito (1966). Principalmente na década de 1980, a Teologia da Libertação se contrapôs a diversos aspectos
do tradicionalismo da Igreja Católica.
O padre como figura política ganha um ar de novidade exatamente em Roque Santeiro, através
da atuação de padre
Albano, pároco de uma periferia de Asa
Branca, interpretado por Claudio Cavalcante (1940-2013), e que se contrapõe a
padre Hipólito, vivido por Paulo Gracindo (1911-1995). Entram em choque, então,
duas visões de Igreja: a da moral e dos dogmas católicos em contraste com a
outra, que encarna o espírito libertário das comunidades eclesiais de base (CEBs),2 em que
atuam padres preocupados com questões sociais.
Após
esse breve panorama
da história do texto e de suas tentativas
de adaptação para outras linguagens – algumas exitosas
–, discutem-se, a seguir,
algumas questões teóricas que fundamentariam o processo de adaptação
televisiva.
Com o advento
do cinema e da televisão, diversos estudos buscam verificar
essas novas possibilidades de fazer artístico, que, frequentemente, recorrem
à tradição literária como matéria de constituição. Recorre-se a traduções de textos de literatura – aqui, no caso, incluam-se textos teatrais – para
a televisão.
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2 Segundo Oliveira ([20--]), escrevendo para o site do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as comunidades eclesiais de base (CEBs) são
organismos da Igreja Católica que se caracterizam por celebração dominical
realizada por leigos ou leigas; ampla participação na tomada de decisões, geralmente por meio de assembleias; e ligação entre a reflexão
bíblica e a ação
na sociedade. Já o site Portal das
Comunidades Eclesiais de Base, no texto “O que são CEBs?” ([2017?]), afirma que não há um consenso sobre
o que seria uma CEB, o que não
autorizaria generalizações apressadas.
Em termos conceituais, os estudos de tradução fílmica incorporam as noções de “transmutação”, “transposição”, “reescrita”, “releitura”, “tradução intersemiótica”, etc. Jakobson (2003, p. 64-65) distingue três maneiras de interpretar um signo verbal, o qual pode se expressar por meio de outros signos da mesma língua, em outra língua, ou em outro sistema de símbolos não verbais. Essas traduções são diferentemente classificadas:
1)
A tradução intralingual ou reformulação (rewording) consiste na interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.
2)
A
tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na
interpretação dos signos verbais
por meio de alguma outra
língua.
3)
A tradução inter-semiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de
sistemas de signos não-verbais. (JAKOBSON, 2003, p. 64-65 grifos do autor).
A telenovela Roque Santeiro, cujas personagens padres são objetos deste estudo, insere-se nessa
terceira tipologia, identificando-se, portanto, com o conceito
de “transmutação”. Observe-se que, na passagem/tradução do texto literário ao
televisivo, consagrou-se o uso do termo “adaptação”, que seria o resultado da transformação de um texto
em termos da migração,
por assim dizer, de uma linguagem para outra. Iremos utilizar este termo – adaptação – neste artigo.
Silva (2007, p. 39) afirma que “a adaptação passa a
ser considerada uma instância da tradução, vista
não como semelhanças, mas, principalmente, como
diferença”. Assim, considera-se que
questões como fidelidade ou infidelidade ao texto-fonte não se sustentam mais nos modernos estudos de tradução.
Por isso, valoriza-se a autonomia do filme
adaptado, caso contrário a adaptação televisiva corresponderia ao que se
costuma chamar de “tradução servil”. Segundo Johnson,
Podemos dizer [...] que a segunda obra, a tradução, ganha significância autônoma precisamente das suas inevitáveis e necessárias divergências da obra original. A autonomia total é com certeza
impossível; o texto literário funciona
inevitavelmente como uma “forma-prisão”.
(JOHNSON, 1982, p. 10).
Conforme nos faz entender Amodeo (2003, p. 139), a televisão é dotada de dispositivos técnicos com que se traduz a representação engendrada simbolicamente pela literatura. Portanto, a obra televisiva – no caso, a novela Roque Santeiro – apresenta autonomia em relação ao texto-fonte. Um fato que provocaria essa independência da versão televisiva da peça de Dias Gomes seria a extensão do folhetim, constituído de 209 capítulos. A peça O berço do herói passa a ser um ponto de partida, uma pista para a revelação do tema, a ser olhado como atual e relevante. A adaptação televisiva precisa ser lida como uma nova reescrita.
Segundo o site Memória Globo (ROQUE...,
[2013?]), a novela Roque Santeiro, exibida de 24 de junho
de 1985 a 22 de fevereiro de 1986
no horário das 20h, é uma sátira à exploração política e comercial da fé popular.
A telenovela marcou época apresentando uma cidade fictícia – Asa Branca
– como um microcosmo do Brasil. Nela, os moradores vivem em função dos supostos
milagres de Roque Santeiro, um coroinha e artesão de santos de barro que teria
morrido como mártir ao defender a cidade do bandido Navalhada. O falso santo
reaparece vivo dezessete anos depois, ameaçando o poder e a riqueza das
autoridades locais.
É importante que se teçam agora algumas
considerações sobre a autoria coletiva da novela Roque Santeiro.
Partindo do argumento criado pelo dramaturgo [Dias Gomes],
Aguinaldo Silva recebeu
a incumbência de escrever as partes central e final da história.
No começo do trabalho de Aguinaldo Silva,
Dias Gomes ainda acompanhava o destino dos personagens, através de reuniões
quinzenais com o autor. Gradativamente, porém, Gomes foi se afastando: passou um mês de férias
no exterior e não se interessou
mais pelo enredo. (UM DIA..., 1985, p. 133).
O novo autor contou com auxiliares: o dramaturgo Marcílio Morais,
o roteirista Joaquim de
Assis e a pesquisadora Lilian Garcia.
A personagem Padre Albano foi criação de Aguinaldo Silva. Cláudio Cavalcante diz que
O padre Albano
não existia na primeira versão.
Quando o Aguinaldo Silva começou a escrever a
segunda versão da novela, ele decidiu que iria falar da nova igreja, da igreja engajada,
da igreja socialista... Foi aí que ele criou o Padre Albano,
que começou a acontecer de uma maneira
muito simpática e muito forte (A PALAVRA...,
2005).
É extremamente provável que Dias Gomes aprovou Albano e a ação pastoral desse sacerdote, pois na minissérie O pagador de promessas (1988), cuja autoria é do dramaturgo baiano em foco, há a figura – inexistente na peça de 1959 – do Padre Eloy, grande incentivador das causas camponesas, interpretado por Osmar Prado. Ligado à Teologia da Libertação, era chamado por Tião Gadelha – latifundiário inescrupuloso e comprometido somente com o próprio lucro – de “padre comunista”.
Padre Eloy mobilizou a ação dos posseiros contra a
desigualdade agrária, reunindo-os na sacristia da igreja, após suas
celebrações. Afirmou, entre outras frases de incentivo à luta por igualdade e justiça,
que: “Deus fez a terra e o diabo fez a cerca.” (SACRAMENTO, 2013, p. 97).
Sacramento (2013, p. 97) destaca o fato
de a minissérie ter sido movida pelo contexto de elaboração da Constituinte e
da possibilidade de uma Constituição mais progressista para o alvorecer de uma Nova República.
Esse exemplo reafirma o que escrevemos acima sobre o fato de a adaptação
se referir a seu tempo e às questões que lhes são contemporâneas.
Quando se estuda a adaptação fílmica, é importante utilizar-se o roteiro na análise da obra. Isso se revela inviável, no entanto, neste artigo, visto a grande extensão da telenovela Roque Santeiro e da dificuldade de se obter esse documento. As comparações expostas neste trabalho entre as personagens Hipólito e Albano, portanto, foram construídas diretamente a partir da obra televisiva e do texto teatral. Moraes e Jakubaszko (2019), por exemplo, realizaram um estudo de caso sobre as bases cenográficas de Roque Santeiro. Para isso, empreenderam a análise de capítulos-chave dessa novela, semelhantemente ao que fazemos neste artigo.
3 Teologias: o Cristo divino e o Jesus humano
Segundo Westphal (2011, p. 68), a Teologia da Libertação surgiu na América Latina como resposta às estruturas de
opressão política, social e cultural. Conforme essa teologia, afirma
Westphal (2011, p. 68), a fé cristã precisa promover mecanismos de superação daquela coerção; assim, a opção preferencial pelos pobres é decorrente da obediência ao Evangelho. Desse modo, “a teologia busca pela
eficácia, que se expressa na libertação dos pobres de todas as opressões sócio-políticas” (WESTPHAL, 2011, p. 68).
Noronha (2012, p. 185) destaca que
A Teologia da
Libertação é sem dúvida alguma a maior expressão de sensibilidade que surgiu
nos últimos trinta anos na história da teologia. Ela rompe com conceitos tradicionais da Igreja institucional
introduzindo na história da Igreja ideias de igualdade social e direitos
humanos, reivindicando para si como herança os lemas: liberdade, igualdade
e fraternidade advindos da Revolução Francesa.
(NORONHA, 2012, p. 185).
Parece-nos que Noronha se equivoca ao afirmar que ideias de igualdade social e direitos humanos foram inseridas no catolicismo a partir da Teologia da Libertação. A preocupação com os pobres faz parte da tradição católica há dois milênios e remonta às origens do Cristianismo.
Nos séculos mais recentes, a Doutrina Social da Igreja fundamentou-se em documentos oficiais específicos. Em 1891, o Papa Leão XIII promulgou a encíclica Rerum Novarum, que se volta para a condição dos operários. A ela seguiu-se, em 1931, a encíclica de Pio XI, Quadragesimo anno, que focaliza a restauração e o aperfeiçoamento da ordem social. João XXIII publicou, em 1961, a Mater et Magistra, que se dedica à evolução da questão social à luz da doutrina cristã. Paulo VI promulgou, em 1967, a encíclica Populorum Progressio, que analisa o desenvolvimento dos povos, e, em 1971, a carta apostólica Octagesima Adveniens, texto comprometido com a questão sociopolítica dos cristãos. João Paulo II escreveu três encíclicas de cunho social: a Laborens exercens, em 1981, um olhar sobre o trabalho humano; a Sollicitudo rei socialis, de 1987, que focaliza os principais temas da Populorum Progressio, e, finalmente, a Centesimus Annus, em 1991, por ocasião do centenário da Rerum Novarum.
Os teólogos
latino-americanos se colocam como continuadores dessa tradição,
que lhes oferece tanto referência quanto inspiração. Pelo menos é o que
exortava o Papa João Paulo II (1986), ao escrever que a Teologia da Libertação
era não só oportuna, mas útil e necessária. Ela deveria constituir, nas
palavras do Papa, uma nova etapa – em estreita conexão com as anteriores –
daquela reflexão teológica iniciada com a Tradição apostólica e continuada
com os grandes Padres e Doutores, com o Magistério
ordinário e extraordinário e, na época mais recente,
com o rico patrimônio da
Doutrina Social da Igreja, expressa em documentos que vão da Rerum novarum à Laborem exercens.
A Teologia da Libertação, porém, não se limita às deduções teóricas e não se deixa aprisionar ao modelo academicista de articulação teológica. Westphal (2011, p. 91) observa
que a teologia latino-americana da libertação
tem o mérito de tematizar a experiência da fé, o compromisso concreto com os
oprimidos, como conteúdo da teologia.
A teologia é desenvolvida pela via da compreensão participativa com o compromisso histórico da libertação dos oprimidos, e, assim, não pode haver divórcio entre a teoria e a prática teológica. Uma teologia
cientificista, aprisionada às tematizações teóricas, que procede de forma analítica
e descritiva somente, seria inadequada, pois colocaria
o teólogo, o sujeito do labor teológico, à margem da existência
teológica concreta. (WESTPHAL, 2011, p. 91).
A Teologia da Libertação se apresenta como um movimento teológico da América
Latina que busca convencer os cristãos de que a vivência da fé
precisa ser uma prática libertadora. Ela surge em um contexto em que se
imbricam fatores de natureza diversa.
Nos anos 1950 e 1960, as condições políticas nacionais e
internacionais impulsionaram a mobilização das massas, que reivindicaram
mudanças das estruturas de que resultavam miséria e marginalização.
Para se conhecer o início da Teologia da
Libertação na América Latina, é preciso
debruçar-se sobre as conferências do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM),
que se predispuseram a ouvir o clamor do povo da América
Latina. Foi o início de um movimento que, ao seguir o Concílio
Vaticano II, estabeleceu conexões com o povo através
das CEBs, proposta que fez com que os sacerdotes se dedicassem mais às comunidades sofridas.
O Vaticano II, inserido no pensamento da teologia desenvolvimentista,
favoreceu a articulação dos teólogos latino-americanos. Nesse sentido,
Gibellini afirma o seguinte:
Na América Latina,
o Concílio não funcionou apenas
como ponto de chegada, mas também como ponto de partida de uma nova consciência
de ser Igreja. De acordo
com esta análise,
a Igreja latino-americana realizou uma “recepção
criativa” do Concílio à luz da realidade latino-americana, na perspectiva dos
pobres a solidariedade como o homem de hoje torna-se solidariedade com os pobres,
e a teologia que acompanha com reflexão este caminho é a teologia da libertação.
(GIBELLINI, 1998 p. 370).
Na II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, ocorrida em Medellín, na Colômbia, em 1968, foram defendidas soluções reais para a pobreza na América Latina. Ganharam grande repercussão os documentos sobre a Justiça, a Paz e a Pobreza da Igreja. Diante da relevância e do impacto desses documentos, elementos característicos de Medellín foram as reflexões sobre pobreza e libertação.
O Episcopado Latino-Americano não pode ficar indiferente ante as tremendas injustiças sociais existentes
na América Latina, que mantêm a maioria
de nossos povos numa dolorosa
pobreza, que em muitos casos chega a ser miséria desumana. (DOCUMENTO... 2017, p. 62).
[...] para nossa verdadeira libertação, todos os homens necessitam de profunda conversão para que chegue a nós o “Reino de justiça, de amor e de paz”. A origem de todo desprezo ao homem, de toda injustiça, deve ser procurada no desequilíbrio interior da liberdade humana, que necessita sempre, na história, de um permanente esforço de retificação. A originalidade da mensagem cristã não consiste tanto na afirmação da necessidade de uma mudança de estruturas, quanto na insistência que devemos pôr na conversão do homem. Não teremos um continente novo sem novas e renovadas estruturas, mas sobretudo não haverá continente novo sem homens novos, que à luz do Evangelho saibam ser verdadeiramente livres e responsáveis. (DOCUMENTO..., 2017, p. 4).
Enfrentando graves obstáculos, como ditaduras, perseguições, prisões e mortes, a Teologia da Libertação se afirmou como uma proposta autonomamente elaborada que chega a ganhar reconhecimento internacional. Na III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, ocorrida em Puebla, no México, no ano de 1979, os postulados de libertação foram reafirmados e radicalizados:
A Conferência de Puebla volta a assumir, com renovada esperança na força vivificadora do Espírito, a posição da II Conferência Geral que
fez uma clara e profética opção pelos pobres [...]. Afirmamos a necessidade de conversão de toda a Igreja para uma opção
preferencial pelos pobres, no intuito de sua integral libertação. (DOCUMENTO..., 1987, p. 352).
Para Westphal (2011,
p. 95), o ponto de partida da Teologia da
Libertação é antropocêntrico, pois o pobre é o centro da articulação temática
da cristologia e da eclesiologia, vindo a ser pobre todo aquele que se encontra sob alguma forma de opressão, tanto no âmbito social, como racial e cultural; por exemplo, o negro, o índio ou a mulher oprimida. Ainda segundo esse doutor em teologia, a vivência religiosa acontece nas práticas cotidianas do pobre, pois ele é a mediação privilegiada para a experiência transcendental de Deus, tanto assim que, no pobre, estaria a manifestação do Servo Sofredor Jesus Cristo, o Jesus humano. A Teologia da Libertação percebe que amar a Deus não significa somente contemplar o Cristo Divino, mas amá-lo em sua humanidade, presente no outro.
Ainda hoje, a Igreja
na América Latina
ratifica esse posicionamento na conclusão
da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe.
Ali, há a afirmação segundo a qual “a opção preferencial pelos pobres
é uma das peculiaridades que marca a fisionomia da Igreja latino-americana e caribenha”
(DOCUMENTO..., 2007, p. 177). Retoma-se o discurso do Papa Bento XVI na abertura
da conferência: “A opção preferencial pelos pobres está
implícita na fé cristológica naquele Deus que se faz pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza” (DOCUMENTO..., 2007, p. 177). Essa maneira de ser Igreja choca-se
com uma visão tradicionalista.
Nessa nova visão, a prática religiosa se concretiza em
ações radicais de solidariedade e, principalmente, fraternidade. A vivência religiosa limita-se,
muitas vezes, à crença no dogma, à obediência cega das normas e das leis
da Igreja, não na vida real da comunidade com que se trabalha. Para muitos
fiéis tradicionalistas,
[a] comunidade é quase uma abstração,
que não fala, não tem opinião; seus membros devem mostrar-se agradecidos por poderem
usufruir dos bens da fé. Estes bens são, na sua quase totalidade, de
ordem espiritual: os ‘sacramentos’ e ‘sacramentais’. (HARTMANN, 1998, p. 8).
Quanto à opção pelos pobres, a prática
eclesial puramente conservadora e normativa em questão não combate as estruturas de injustiça
e exclusão; em vez disso evidencia a prática de uma caridade
cuja eficácia é momentânea, pois não se dirige às causas sociais
da pobreza. Além disso,
não são raras as vezes em que ela serve quase que somente para aplacar a
consciência de quem pratica a caridade/esmola. Adora-se
o Cristo Divino, cuja divindade/presença não se
percebe no outro.
4 Maneiras diferentes de viver a fé: Padre Hipólito e Padre Albano
A telenovela Roque Santeiro constitui um produto cultural que permite um
entendimento do cotidiano brasileiro e da vida econômica, política e cultural
do país. Trata-se de um texto ficcional que apresenta a questão social
católica da época,
marcada por posicionamentos paradoxais no que se refere
à ação eclesial – religiosa e laica – diante de um país marcado por desigualdades. Figurativamente, esses posicionamentos – progressista e
conservador – concretizam-se nas figuras de Padre Albano e Padre Hipólito,
respectivamente.
Segundo o dicionário eletrônico Houaiss (2009), contraponto deriva
do latim medieval contrapunctum (<lat. prep. contra + ac. punctum ‘ponto’), vocábulo
usado na expressão latina cantus contra
punctus ‘canto, música em contraponto’. É uma palavra da teoria musical,
utilizado de várias formas. Contraponto “pode
se referir à teia da textura musical
de uma peça. Contraponto pode ser [também] sinônimo de polifonia, uma
vez que uma música contrapontística é polifônica” (OWEN, 2015, p. 6). De forma geral, a
polifonia não é, em música, geradora
de desarmonias. Em sentido figurativo,
contraponto passou a significar também, segundo o dicionário, o “uso de contrastes
ou temas entrelaçados em texto literário, filme etc.” (HOUAISS,
2009). Talvez esse novo sentido tenha surgido por causa do verbo contrapor,
que significa, entre outros sentidos, “pôr(-se) em contraste;
contrastar, opor(-se); divergir” (HOUAISS, 2009). Há de se verificar isso. A atenção
dispensada a essa pequena babel semântica tem por finalidade ressaltar que, apesar de serem personagens contrapostos, Padre Albano
e Padre Hipólito são, mesmo com os contrastes, arautos de uma mesma
Igreja. Ainda que sejam diferentes em muitas das ações tomadas
e dos discursos proferidos, não deixam de ser sacerdotes
da mesma comunidade católica mundial, que é
também diversa, quer seja no rito (latino,
bizantino, armênio, etc.), quer seja na ação pastoral (missionária, indígena,
carcerária, etc.), quer seja na vivência comunitária e espiritual
(ordens, congregações, institutos, movimentos, etc.), por
exemplo. Na novela, duas grandes vozes ganhem relevo eclesiástico.
Para melhor se estruturar a análise que
se fará aqui – baseada no contraste, na divergência – utilizaremos os seguintes
itens: o espaço/ ambiente; a indumentária; a idade dos padres; a doutrina/ o
discurso e as ações pastorais.
4.1 O espaço/ambiente: igrejas em Asa Branca
O espaço por onde as
personagens se movimentam e onde a ação se desenvolve não pode ser considerado apenas em seu aspecto físico,
mas também em suas implicações sociais e psicológicas. “Num sentido mais
abstrato, é importante que seja considerado o espaço social, a ambiência social pela qual circulam as
personagens” (ABDALA JÚNIOR, 1995,
p. 48, grifo do autor). Costumeiramente, críticos empregam o termo ambiente para se referirem a essa
interseção entre o físico, o social e o psicológico. No ambiente, surgem as características sociais
das personagens (filosofia de vida, religião,
ideologias, etc.) que com ele se relacionam. “O espaço social, enquanto sistema de valores, projeta-se na
psicologia das personagens formando em seus cérebros, simbolicamente, um espaço. Esse espaço
– seu sistema de valores – determina o que ela pode ou não fazer” (ABDALA JÚNIOR, 1995, p. 49). Na telenovela Roque Santeiro há dois espaços
oficialmente litúrgicos: a igreja matriz de Asa Branca e outro templo
católico, localizado no subúrbio da cidade. Ambos constituem-se como signos
dos jeitos de ser Igreja de Padre Hipólito
e de Padre Albano, respectivamente.
Segundo o Código de Direito
Canônico (2001, p. 303), cânon
1214, entende-se por igreja um edifício sagrado
destinado ao culto
divino, onde os fiéis católicos têm o direito de praticar a celebração
religiosa, especialmente se pública. Para Chevalier e Gheerbrant (2009, p.
874), “O templo é um reflexo do mundo divino.
Sua arquitetura existe à imagem da
representação do divino que têm os homens [...]”. Já o termo “igreja matriz”
é muito utilizado no Brasil para designar o principal templo religioso
de uma paróquia. É a igreja paroquial, e a ela se submetem as outras igrejas
daquela circunscrição eclesiástica.
O caráter privilegiado da matriz de Asa Branca confirma-se não somente por ser a titular daquela freguesia baiana, como também pela sua localização, que é simbólica, no caso, por ser plantada na região central da cidade, em cuja praça principal se erigiu a estátua de Roque Santeiro (FIGURA 1).3 É um templo grande, antigo, cujo interior é ornado por elementos característicos de um santuário tradicional católico. O bem acabado altar central, os bancos de madeira de lei, as estátuas grandes de santos, os castiçais, os entalhes nas paredes, a cor dourada dos detalhes e o famoso ostensório de ouro (roubado por Roque), tudo demonstra o locus social dessa igreja e o status do seu pároco (FIGURA 2). Esse espaço antigo já nos sinaliza o provável teor da pregação e da práxis religiosa executada por Padre Hipólito: conservador, tradicional, ortodoxo. Os discursos proferidos ali se referem a pecado, confissão, penitência, oração, arrependimento. Representantes de todas as classes sociais lá se congregam. Chefes políticos e donos de estabelecimentos comerciais a frequentam e contribuem para sua manutenção.
4.2
A indumentária religiosa e a idade
dos padres
Intimamente relacionada ao tópico
anterior, a indumentária é sinal acentuado das diferentes tendências religiosas dos sacerdotes estudados. Ao longo da história da humanidade, as roupas desenvolveram-se para seguir
funcionalidades determinadas por aqueles que as estavam criando e/ou vestindo.
A princípio como proteção, depois como elemento de manutenção
do pudor, as indumentárias passaram a ser utilizadas pelos indivíduos como
forma de expressão
de seu status social,
etnicidade, crença ou cultura.4 Para Chevalier
e Gheerbrant (2009, p. 947), “[a] roupa é símbolo exterior da atividade
espiritual, a forma visível do homem interior”. Portanto, no âmbito
religioso – em nosso caso, católico –, é comum haver roupas específicas
para diferenciar os crentes.
O cânon 284 do Código de Direito
Canônico (2001, p. 97) indica que os clérigos devem vestir um traje
eclesiástico digno, segundo as normas dadas pela conferência episcopal
e os costumes legítimos do lugar.
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4 A indumentária – tecnicamente, o figurino – é um dos elementos narrativos do audiovisual, detentor
de assinalada importância; sem ela o texto fílmico fica incompleto e pode não
comunicar a ideia desejada, já que o figurino responsabiliza-se por transmitir
costumes, comportamentos, estação climática, classe social, aspectos
psicológicos, ideologias, religião, etc., por meio dos tecidos, cores, texturas
e formas.
A veste religiosa mais conhecida é a batina, chamada também de sotaina. Segundo Edwards (2012, p. 178), a batina é indumentária própria de clérigos católicos, luteranos, anglicanos e católicos ortodoxos. Na versão católica, possui 33 botões, para representar a idade de Cristo. A cor preta é a comum, estipulada, segundo informação de Brodbeck (2009, p. 27), por vários concílios e sínodos.
Por ser a Igreja Católica
uma instituição hierarquizada, como reza o cânon
207 do Código de Direito
Canônico (2001, p. 77), o uso das roupas
distingue os sacerdotes entre seus pares e diferencia-os do povo. Para a fé católica, a veste sacerdotal simboliza uma eleição e uma separação: eleição,
por vocação, de um homem ao serviço eclesiástico e separação desse
indivíduo do meio dos leigos. A roupa específica do sacerdote é o sinal
exterior de uma realidade interior:
o padre já não pertence
a si mesmo, mas é “propriedade” de Deus. Assim, a veste clerical realça o papel de separação
entre o sacerdote e os fiéis, o povo católico.
Brodbeck (2009, p. 20) ratifica isso quando escreve que,
se por vocação divina e força da graça presente em um
sacramento distinto [o da ordem] os sacerdotes são separados, consagrados,
natural que signifiquem essa separação e consagração por meio de alguns símbolos,
todos eles decretados, em sua sabedoria, pela Igreja,
mediante seu Direito Canônico.
Em desacordo, muitos leigos e
sacerdotes, destacadamente da ala dita progressista, evitam
o exagero no uso das vestes litúrgicas no dia a dia.
Alguns argumentam que o uso dessas roupas não sinaliza
obrigatoriamente o amor à
liturgia e muito menos um sinal do Evangelho. Carmo ([201-?], apud GUIMARÃES, 2017) afirma que, ao
contrário, as vestes religiosas podem ser sinal de ostentação e de poder sacro
e que o não uso delas, em muitas situações, reforça que o despojamento, a renúncia aos privilégios e a simplicidade são sempre indicadores do seguimento a Jesus. A professora
salienta que, ao longo da história da Igreja, quando essa instituição esteve muito vinculada ao poder temporal, o padre era um nobre da corte, portanto
se vestia como era costume dessa classe social. Hoje, a teóloga assevera
que isso é simplesmente despropositado, pois essas roupas não estariam ao serviço do altar, mas daqueles que as
portam.
No contexto de uma obra audiovisual, como Roque Santeiro, em vez de perda do valor do símbolo, há ganho semiótico no uso de roupas comuns por Padre Albano, uma vez que, por vestir-se à paisana, ele se insere no meio do povo como um igual. A atitude do presbítero se reveste de um simbolismo caro ao discurso social desse jovem religioso: ser um a mais entre seus paroquianos, lutar junto deles e como um deles. O uso da batina por Padre Hipólito relaciona-se, simbolicamente, com seu lugar oficial de detentor de certo poder na sociedade estratificada de Asa Branca. Sua roupa o distingue como o sacerdote de uma instituição que se faz presente nas decisões de vulto da localidade e na apreciação social de seu sacerdócio e no reconhecimento de seu dever de aconselhar/orientar as pessoas, a partir de um posicionamento católico oficial.
Quanto à idade, os presbíteros eram
originariamente anciãos. Segundo o dicionário eletrônico Houaiss (2009), a palavra origina-se do grego presbúteros ou présbus, eós e significa velho, idoso,
experiente, digno de respeito. Na tradição neotestamentária, conforme o livro
do Apocalipse, capítulo
1, versículo 14, o Filho do Homem possui cabelos brancos, sinal de eternidade. Velhice
relaciona-se à tradição. Em termos religiosos cristãos, significa sabedoria, e as sociedades da Antiguidade consideravam a velhice
como algo dignificante.
No contexto da telenovela, a velhice de
Padre Hipólito pode simbolizar a Igreja da tradição milenar; da perenidade do
dogma, da imutabilidade da doutrina. A juventude de Padre Albano pode representar os novos caminhos
da Igreja católica
pós-conciliar, aquela que optou pelos pobres. Se Albano se apresenta como o novo, Hipólito é considerado, em
algumas situações, como o ultrapassado.
A velhice e a juventude dos
sacerdotes de Roque Santeiro apresentam, de maneira simplificada e panorâmica, duas visões –
tradicional e progressista – sobre a Igreja católica no Brasil daquela época.
4.3 A doutrina/o discurso e as ações pastorais
De maneira geral, discurso “é a atividade
lingüística nas múltiplas
e infindáveis ocorrências da vida do indivíduo” (CÂMARA
JR, 1988, p. 99).
O discurso reflete as relações
sociais, visto que “toda enunciação constitui um ato (prometer, sugerir, afirmar, interrogar...)
visando modificar uma situação” (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2008, p. 170).
Roque
Santeiro apresenta ao telespectador duas formas de
viver a fé católica, já anteriormente mencionadas. Uma delas relaciona-se a um catolicismo de caráter institucional e burocrático e de sinalizador das etapas da
vida por meio de seus rituais:
[a Igreja] da missa dominical, do batizado festivo, dos casamentos sociais, dos anjos barrocos, do padre sisudo, da sacristia, do confessionário e do altar, que fala do céu para os bons, do inferno para os maus, das liturgias formais, dos corais, das canções e da música intimistas, da fé como adesão e compromisso individual com Deus, da devoção aos santos, das procissões, das promessas, da clara distinção e separação entre fé e vida, onde as coisas não se misturam. (HARTMANN, 1998, p. 7).
A outra proposta, pautada nas decisões pós-Vaticano II, une-se aos pobres e aos padres que estão entre o povo, ou seja, apoia os sindicatos, os Direitos Humanos, os movimentos sociais, as celebrações politizadas e as minorias e promove o acolhimento, a transformação da ordem social, o combate às injustiças e, destacadamente, adota uma visão de Igreja comunitária, em que a salvação é alcançada a partir daqui e de agora para todos e em todos os sentidos. Por meio dos discursos e ações dos sacerdotes, a novela reflete sobre esses dois modelos de ser Igreja.
A referência para a atuação dos padres
em Roque Santeiro diz respeito à questão do papel do povo em relação à Igreja: ou ela é serva da humanidade, ou a humanidade se coloca como serva dela. Para Hartmann (1998), o principal e,
por vezes, único referencial para a atuação do Padre Hipólito é a instituição eclesial, em seu âmbito dogmático, normativo
e legal e não a realidade da comunidade com que o pároco trabalha. Já Padre Albano representa, no seu exercício
pastoral, uma visão eclesial que inverte o polo referencial, colocando
a comunidade no lugar da Igreja institucional, isto é, são priorizadas as pessoas
concretas, com suas alegrias e tristezas, angústias e esperanças. As criaturas
humanas se tornam o objeto principal dessa atuação sacerdotal. Hipólito
conhece a Igreja como instituição; Albano,
como povo de Deus.
Em uma novela tão extensa,
inúmeras vezes os discursos e as ações dos
padres, quer em cenas em que eles aparecem separados, quer naquelas em que
aparecem juntos, revelam esses modos de se pensar a atividade pastoral e a
missão sacerdotal. Uma das ideias-força que caracteriza o discurso é a
interatividade, cuja maior manifestação é a conversação, “na qual os dois
locutores coordenam suas enunciações, enunciam em função da atitude do outro e
percebem imediatamente o efeito que suas palavras têm sobre o outro” (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2008, p. 171).
Escolheu-se, por isso, analisar neste artigo uma das cenas5 em que Padre Hipólito visita Padre Albano na igrejinha do subúrbio, onde conversam sobre seus diversos modos de ver suas vocações. Logo no início da cena, Padre Albano orienta alguns dos fiéis a procurarem o sindicado antes de qualquer atitude que venham a tomar.
(Interior da igrejinha de Padre Albano. Alguns fiéis escutam o padre, que os aconselha.)
Padre Albano – Então, vão com Deus, amanhã a gente conversa mais. Agora não se esqueçam, não façam nada sozinhos, tá. Vocês têm que procurar
antes de qualquer coisa o sindicato de vocês, tá. Vão com Deus, amanhã a gente se vê.
(Os fiéis saem. Entra Padre Hipólito.)6
Como a narrativa começa in media res, não sabemos a que problema o sacerdote
faz menção, mas a ideia é ressaltar como Padre Albano está envolvido em
questões sociais bem concretas.
Em determinado momento, eles começam a
conversar sobre a vocação de Padre Albano, que diz estar lendo muito São João
da Cruz e Santa Teresa de Ávila.
Padre Hipólito
– [...] como é que vai a sua luta.
Padre Albano – Tá feroz, tá encarniçada, como toda boa luta. Tenho meditado muito, tenho lido muito São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila. Tem me ajudado
muito, pois (inaudível) me sinto como se eu estivesse
me reencontrando comigo mesmo quando eu resolvi abraçar a Igreja. Eu lia
muito São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila na minha adolescência antes de entrar no seminário. Me lembro, muitas vezes meus amigos saíam para se divertir, para ir aos bailes, e eu ficava
em casa sábado à noite lendo Santa Teresa de Ávila.
Padre Hipólito – E foi aí que começou a desabrochar a sua vocação, não é?
Padre Albano – É, não achava errado o que eles faziam não, acho que tava
certíssimo, eles queriam viver a vida que estava ali, né, sentir os prazeres
do mundo. Eu não condenava,
mas pra mim era muito
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6 Todas as transcrições das cenas em análise são de nossa autoria.
pouco, eu queria
muito mais, eu queria a vida no seu mistério, na sua plenitude, e
isso só Deus podia me dar.
Padre Hipólito – Engraçado, você está falando e eu estou
aqui... pensando como é que você consegue conciliar tamanha vocação mística com essa igreja que é tão apegada
aos problemas do mundo
que você prega.
Padre Albano – Essas duas coisas não são irreconciliáveis, muito pelo contrário, elas se complementam. A Palavra de Deus só se realiza
na plenitude do homem, logo é preciso o quê? Salvar o homem.
Padre Hipólito
– É preciso salvar a alma dos homens. É diferente.
Padre Albano –
Padre, não foi porque Ele amava a humilhação e a ofensa que Cristo chamou a si
os humilhados e os ofendidos. Ele precisava era livrá-los da humilhação e da
ofensa.
Padre Hipólito – Se Cristo
quisesse resolver os problemas do mundo
ele teria vindo com uma legião de anjos e teria expulsado todos os poderosos da
terra. Mas ele deixou apenas a sua Palavra.
(Padre Albano
faz gestos de negação com a cabeça.) Padre Hipólito – É ela que nós
temos que pregar.
Padre Albano – Ele deixou também
a sua Igreja, e é através dela que
temos que acabar com a injustiça do mundo.
(Padre Hipólito faz um gesto de impaciência.)
Padre Hipólito – Enfim, vamos deixar essas discussões teológicas para depois, porque eu não quero me
aborrecer com você. De qualquer maneira eu me sinto muito contente em saber que
a sua fé está resistindo a todas as pressões.
[...]
Padre
Hipólito –
Deus sabe
o que faz
e o jeito
que faz,
não precisamos
nós, os sacerdotes, nos desviarmos da nossa missão.
Os santos mencionados – São João da Cruz e Santa Tereza de Ávila
– são alguns dos maiores
místicos da história
moderna da Igreja.
Há, então, um aparente
paradoxo, visto que o misticismo católico não se coaduna com uma ação política e social por parte
de Albano, representante da Teologia da Libertação. Esse suposto
contrassenso é percebido por Padre Hipólito, que pergunta como ele concilia tal
vocação mística com “essa Igreja que é tão apegada aos problemas do mundo”, para citarmos literalmente a fala da personagem.
Observemos que, ao dizer “essa Igreja”, Padre Hipólito a considera diferente do
que seja a Igreja católica.
O discurso do sacerdote idoso revela uma doutrina espiritual apartada das problemáticas socioeconômicas presentes na vida dos fiéis e confirma a ação pastoral dos padres como sendo unicamente espiritual. A resposta de Albano revela outra concepção de Igreja: aquela que age por meio do próprio homem, e não por pura ação de seres espirituais, ou “anjos”. Um fato curioso: durante toda a cena, Albano chama Hipólito de “padre”, o que não acontece quando Hipólito se dirige a seu amigo de sacerdócio.
Esses
discursos, divergentes em muitos pontos,
conduzem as ações desses padres. Dias Gomes,
na peça Roque Santeiro
ou O berço do herói, esboça a personagem Padre
Hipólito. Apesar de o Hipólito da
telenovela não se resumir ao que orienta o dramaturgo no texto-fonte, há traços da ação pastoral
que estão bem delineados na caracterização da personagem. Escreve
o dramaturgo:
Padre Hipólito é uma figura
contraditória. Tão contraditória quanto a própria Igreja Católica. É já de meia-idade [na
telenovela é já um idoso] e os anos
que tem na paróquia lhe permitiram assistir ao crescimento da comunidade. É a única pessoa que possui uma visão
global desse desenvolvimento desigual e desordenado em que, sob os rótulos de
progresso e civilização, entram, de contrabando, os germens que irão contaminar
a futura sociedade dita civilizada e cristã. Consciente disso, Padre Hipólito
trava uma violenta batalha contra a corrupção dos costumes, que cresce com a
própria cidade. Sem uma visão nítida de progresso histórico, combate os
efeitos, esquecendo as causas, e,
contraditoriamente, sua paróquia se beneficia dessa mesma corrupção que
ele combate. Essa obsessão, essa ideia fixa – o combate às prostitutas que invadem a cidade – é a cristalização
de uma revolta decorrente da consciência que tem de sua impotência para impor a própria concepção
moral. (GOMES, 2001, p. 20).
O pároco de Asa Branca nota a corrupção daquela sociedade citadina, no entanto não sabe envolver-se, pois
acredita que não deve misturar-se com as mudanças fundamentais para impedir a
corrupção social que lá existe. Padre Hipólito
revela, por suas ações, o desconhecimento de como
responder a problemas e outras situações que se impõem no cotidiano da
sociedade de Asa Branca, agindo
de maneira anacrônica ao combater, por exemplo, casos de cunho sexual, sem perceber que as corrupções que surgem
na cidade referem-se a questões políticas, econômicas, sociais e religiosas.
Padre Albano, por outro lado, muitas vezes descuida-se de suas obrigações estritamente litúrgicas e ditas espirituais e busca mudar a realidade de sua comunidade eclesial, minorando suas dificuldades materiais e incentivando a luta por direitos. É um padre de ação concreta, buscando transformação social. Se Hipólito esquece as causas dos problemas da cidade, Albano está atento para as origens socioeconômicas da desigualdade em Asa Branca.
Ainda que, quando necessário, Padre Hipólito não se acovarde na defesa de seus fiéis contra injustiças, é a atuação de Albano que se mostra comprometida com todos os riscos (sociais, emocionais, afetivos, políticos, eclesiásticos, legais, etc.) que tal envolvimento com a comunidade acarreta. Para ilustrar a maneira diversa do agir dos sacerdotes de Asa Branca,
é pertinente o episódio da luta pela abertura de uma creche para os filhos das funcionárias da fábrica de Zé das Medalhas.
O fato desenvolve-se em vários capítulos.7 O empresário é dono de uma pequena indústria que
explora o mito de Roque Santeiro por meio da venda de medalhas, camisetas, amuletos
e esculturas. Sonha ampliar seu negócio com o aumento da fabricação de
mercadorias e a abertura de um supermercado. Sob a liderança de Padre Albano,
as funcionárias, diante da recusa de Zé em abrir a creche, levam seus filhos
para a indústria, o que causa aborrecimentos ao empresário. Conflitos acontecem
entre o sacerdote e o negociante. Em uma discussão entre eles, após Zé das Medalhas afirmar, peremptoriamente, que não
abriria a creche e que ganharia a guerra contra Albano e as funcionárias, o padre olha para um crucifixo
e diz à imagem de Jesus: “Desculpe o atrevimento, mas o
Senhor também gostava de uma boa briga.” A imagem nutrida por Padre Albano
é a de um Cristo
que age contra
o erro. É o Cristo
que, apesar de ser “manso e humilde
de coração” (BÍBLIA..., Mt 11, 29, 2008), expulsa
com violência os “vendilhões do templo” (BÍBLIA..., Jo 2, 13-16, 2008).
Padre Hipólito reprova a atitude de Padre Albano em incentivar a manifestação em prol da abertura da creche.
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7 Os pontos principais do episódio podem
ser acompanhados em um vídeo
disponível em:
https://vimeo.com/181432238. Acesso em: 29 maio 2018.
(Padre Hipólito,
batendo na mesa, furioso!)
Padre Hipólito – Não posso acreditar! O senhor! Um padre! Um
membro da Igreja de Deus! Apoiando
essas atitudes radicais!
Padre Albano
– Então me diga uma coisa, padre.
O senhor é contra a
ideia da creche?
Padre Hipólito – Não, claro que não sou, e nem podia ser, né.
Mas eu acho que os métodos
que você está usando para a abertura
dessa creche são profundamente condenáveis, né. Porque se essa ideia das
mulheres irem lá pra fazer aquela bagunça na casa do Zé das Medalhas, lá na
loja dele, não é ideia delas, aquilo é ideia sua.
Padre Albano
– Padre, a ideia é minha, eu que planejei
tudo.
Padre Hipólito – Pois, então, desplaneje tudo! Vá lá e acabe
com aquela bagunça.
Padre Albano – Padre, o senhor se lembra das Escrituras,
quando Cristo foi lá e expulsou os vendilhões do templo...
Padre Hipólito – Ah, não venha me adaptar as Escrituras às
suas [sic] interesses políticos. A Palavra de Deus é uma só, não faça uso
dela para justificar as suas campanhas. Aquelas mulheres estão reivindicando a creche, tá certo, mas elas têm que fazer dentro da lei.
O que elas estão fazendo, por conselho seu, é ilegal.
Padre Albano – Mas, Padre
Hipólito, o senhor
está cansado de saber
que nós fizemos tudo pra convencer o seu Zé das Medalhas
de todas as maneiras legais.
Vamos ver se assim ele entende.
Padre Hipólito – Não, não, não, mas eu não concordo com isso!
O senhor está errado! E eu, como padre mais antigo aqui de Asa Branca,
eu sou obrigado por uma questão moral de fazer um relatório pra Cúria Metropolitana
contando o que está acontecendo aqui!
Padre Albano – Mas o quê que tá acontecendo aqui?
Padre Hipólito – O que está acontecendo aqui é que tem um padre na cidade que se preocupa mais com a
matéria do que com o espírito, gosta mais de brigar do que de rezar e anda querendo
transformar as suas ovelhas
em lobos.
Padre Albano – O senhor pensa isso de mim, padre?
Padre Hipólito – Claro, você que me dá razão com seus atos de pensar assim! Agora vá lá acabe com essa confusão
enquanto é tempo!
Padre Albano – Não, padre, eu sinto muito, mas quem tem que acabar com essa confusão é seu Zé das Medalhas. Quanto ao seu relatório...
Padre Hipólito
– Oh, eu não sei, tô pensando,
não sei se vou fazer. Padre Albano – Que Deus ilumine o senhor na hora da decisão.
Mesmo apoiando a abertura da creche, o
pároco desaprova, veementemente, a ação das mães incentivadas por Padre
Albano. Ele não compreende o ponto de
vista do “padre vermelho”, para quem as manifestações são moralmente justificáveis, pois trazem benefícios sociais,
embora possam parecer ilegais para aquele pároco. O discurso agressivo
de Hipólito reafirma seu entendimento de uma Igreja que deve limitar-se ao
serviço espiritual – daí a crítica ao dizer que Albano prefere brigar a orar.
Parece que, para o pároco mais antigo de Asa
Branca, a oração sem atitudes é suficiente. Envolver-se em ações
de cunho social
e humanitário, então, não
deve ser prioridade para um sacerdote, segundo o pensamento conservador e
institucional de Padre Hipólito.
Podemos definir, então, que Padre Albano representa o tipo do padre comunitário e Padre Hipólito, o padre institucional. “[...] o padre comunitário busca
contribuir para um projeto global integrador, que convoca a todos os homens e mulheres de boa vontade para a sua realização e cujo referencial é, fundamentalmente, um mundo mais justo e solidário” (HARTMANN, 1998, p. 9).
Já o
padre institucional preocupa-se,
geralmente, com questões particulares, frequentemente intimistas
e fundamentalistas, e incentiva manifestações de fé, mas não possui disposição
para a organização comunitária. É conveniente
frisar que há crítica à ação de Albano quando
ele é relapso em questões
de liturgia. É possível interpretar a
pouca vontade dele em relação às celebrações oficiais do catolicismo como um reducionismo desse modo de ser Igreja em sua
abordagem revolucionária dos problemas sociais.
Assim
definidos, parafraseamos Hartmann
(1998) e identificamos o padre comunitário mais com o “profético” e o padre
institucional mais com o “conservador” (fundamentalista,
intimista, assistencialista).
Este texto, de modo panorâmico, apontou, inicialmente, aspectos da recepção da peça Roque Santeiro no período militar ditatorial no Brasil. Após isso, explanaram-se diversas traduções/adaptações do texto para o teatro e para a televisão. Afirmou-se que toda tradução/adaptação televisiva ressignifica o texto-fonte (neste caso um material teatral), dentro dos protocolos de sua mídia audiovisual, em que busca fazer adaptações a partir dos discursos, das determinações, das pressões e das ideologias em voga. Considerando este último item, realçaram-se duas ideologias dirigentes da ação católica àquela época: uma conservadora e outra fundamentada na Teologia da Libertação. Por meio da contraposição dos discursos e das práticas dos padres católicos da telenovela, Padre Hipólito e Padre Albano, destacaram-se duas formas, em muitos pontos bastante distintos, do ser Igreja.
Para minha avó Israelita (in memoriam),
com quem assistia à Roque Santeiro.
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